terça-feira, 30 de setembro de 2008

Teatro do Oprimido

Este fim de semana dediquei-me a outros palcos.
Passei sábado e domingo, 8 horas por dia, dedicado a um workshop de "Theater of Opressed" (em bom inglês). Esta disciplina teatral criada por Augusto Boal e com um toque filosófico de Paulo Freire, ambos brasileiros, foi-me primeiro apresentada nos meus primeiros passos no teatro, sob a forma de exercícios simples, capazes de nos transportar para estados mágicos de actividade teatreira. Quem mo apresentou foi o Rui Mário, já lá vão uns 6 anos.

Agora, um pouco mais crescidinho, decidi que queria re-apreender o trabalho do Boal por outras fontes, perceber um pouco mais de onde vinham aquelas coisas que fazia, quais os pensamentos por trás, as técnicas e filosofias. Mais importante, tinha mesmo de saltar um pouco para o outro lado, que isto de sempre ciência também chateia como o caneco e é sempre melhor passar bom tempo rojando pelos chãos de um palco sujo!

Foi um fim de semana muito bem passado, em boa e nova companhia (totalmente feminina (e bem gira), que isto de o teatro ser para paneleiragem tem destas vantagens). Gentes de NY e arredores, interessadas noutras coisas, com muita vontade de querer mudar um pouco o mundo em que vive, e a vontade de querer aprender a fazê-lo através do teatro.

Não é propriamente uma forma de fazer teatro subtil. Pelo contrário, é mesmo muito directa, com uma mensagem pedagógica, sem se dar muito a estéticas frágeis, mais disponível a ser percebida e interpretada facilmente, porque se põe ao mesmo nível do público a que se dirige. Tem por missão última a de fazer representar as relações de poder, os conflitos entre opressor e oprimido, e obrigar a reflectir sobre soluções para a resolução desses mesmos conflitos. O objectivo é que a linguagem teatral se una a uma linguagem social e política, de forma directa, e faça transmutar o sentimento de passividade e impotência em actividade potencial. Fazer acreditar, e dar armas para acreditar. Parte tudo de uma base simples, e passo a passo, dinamizando as acções, a cena constrói-se. No final, a reflexão sobre a cena impõe-se. Cada pormenor, o espaço, os objectos, as atitudes e estratégias tomadas por cada personagem no desenrolar da acção, são escrutinadas e é dado ao público a palavra última.

A mensagem é simples. A responsabilidade de mudança cabe a cada um. O actor, seguindo certas estratégias, tem a responsabilidade total para criar, melhorar e mudar a cena. No palco da vida, tudo terá de ser igualmente possível.

3 comentários:

Joana Guerra disse...

"des-oprimizar"...

HB disse...

Acho que também sinto falta disso por aqui, de mudar de contexto de vez em quando. Tudo muito prático, pouca fantasia e filosofia. Agora a Bélgica já tem cheiros, é esquisito mas no verão não cheirava a nada e agora no outono já cheira a coisas normais, chuva, mar, árvores, tubos de escape. Já não é dos cheiros que sinto mais falta agora, mas das cabecinhas do pessoal de Coimbra...

Gil disse...

Também me faz falta Coimbra. :)