domingo, 5 de outubro de 2008

Bucolias de príncipio de Outubro

Quando cheguei, dois meses e alguns dias atrás, todas as noites no caminho para casa tinha de passar por um coro inacreditável de bicheza a zurzir, um som como um motor a altos berros, algo que nunca tinha ouvido até então e que não se calava nem quando acordava na manhã seguinte. Ontem apercebi-me que as cigarras finalemente se calaram. E vejo agora que já se calaram há algum tempo. Deve ter sido quando alguém ligou o maldito aquecimento central.

As cigarras calaram-se, o tempo já não é húmido e quente, e a água da praia apetecível. Agora que Outubro chegou os dias ficaram meio frios, vêem-se cogumelos no meio da relva, a passarada emigra para outras bandas, e sente-se que a água se vai preparando muito lentamente para mais tarde congelar. É uma tensão esquisita que se sente vinda da baía. Só os esquilos parece que vivem na mesma estação. Irrequietos, numa compulsividade de mascar bolotas ou o que raio é aquilo, a subir e descer, subir e a descer das árvores encarequiçadas. Certamente daqui a uns tempos também eles hão-de estagnar.

O bom de viver no meio de nenhures é que reencontro coisas de que já me tinha esquecido. Como por exemplo, como às tantas da noite o caminho para casa se torna mais fácil de cada vez que a lua se põe cheia. Ou como o lume dos pirilampos se apaga com o frio.

Até é bom que o Verão não dure para sempre!

1 comentário:

Unknown disse...

lindo... pareces-me um aquilino ribeiro que redescobre a naturalidade no dito mundo evoluido. se calhar, é mesmo!! Grande Abraço