terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quarta e Quinta na Cidade

Não é comum ir a NY a um dia de semana. Pois calhou que comprei dois bilhetes para dois espectáculos diferentes, em dois dias consecutivos, na mesma semana. Foi uma barrigada! Sair do trabalho a horas decentes, pôr-me o comboio, metro, Brooklyn num dia, Harlem no outro. Woyzeck num dia, Antony no outro. Duas criaturas estranhas em dois mundos estranhos.

A voz de Antony surpreende vinda de um homem tão mulher, num corpo tão desajeitado. Um choro melancólico, vestido de branco, acompanhado por uma orquestra no Apollo Theater. Os queixumes da sua voz lembraram-me de outros tempos em que a mesma voz nos comovia intensamente. Mesmo que agora o "nos" já não seja tão plural, fica sempre aquele carinho pelas vozes de tempos bons.

Woyzeck é um tipo mais normal. Também eu poderia ser Woyzeck.
A adaptação que o grupo Islandês apresentou na Brooklyn Academy of Music era feita de energia explosiva e candura poética, conceitos que os islandeses tão bem parecem saber unir. Uma incrível disponibilidade dos actores, às vezes lançados pelo ar como trambolhos, por vezes imersos em água num tanque/moldura, sempre intensamente na personagem. Um acepipe para deliciar um pouco mais, a música original foi criada de propósito por Nick Cave.

As viagens de volta de NY para CSHL, à noite, depois do trabalho, custam sempre um bocadinho. Mas assim se consegue encontrar mais do que uma única vida. De outra forma, só como os gatos, tendo mais do que uma vida, herdadas de nascença.

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